Parker, no caso, é Eric Parker, um jovem magnata às voltas com uma Nova York à beira do colapso. Interpretado com competência pelo “vampiro” Robert Pattinson, é um jovem magnata que, após cismar que tem que cortar o cabelo, atravessa toda a cidade em sua limusine, enfrentando toda sorte de eventos, apenas para chegar no bairro em que cresceu, onde ainda mora e trabalha o barbeiro que o atendia na infância. “Parker é um jovem que não se comunica com o mundo, que usa seu dinheiro para construir microcosmos em que se sente seguro (a limusine) e para quem dar uma volta a pé na rua é perigoso. Aparentemente, ele só quer cortar o cabelo, mas ele está tão fechado em seu pequeno mundo que o filme é uma metáfora para esta volta à inocência. O longa tenta detectar algo que nos está fugindo e para o qual tenhamos de voltar”, comentou o diretor canadense.
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Quando fez tal comentário, acrescentou também que não via nenhuma semelhança entre o personagem e o ator que lhe dava vida, ainda que, como Parker, Pattinson fosse obrigado a viver em espaços fechados e ter pouco acesso à “liberdade de circular”. “Há semelhanças nas vidas deles porque ambos vivem tipos de isolamentos. Mas Pattinson o faz porque tem de lidar com o peso de ser uma celebridade. Parker não é famoso. É um cara que força todos a virem para o seu mundo. Criou a limusine para ser seu barco, viver ali completamente isolado. Gosto da estrutura de que ele força todo mundo a fazer tudo para ele. É estranho e silencioso.”
Se a mesma pergunta tivesse sido feita há pouco, quando Pattinson, após um período em que foi obrigado a se fechar e silenciar para se proteger dos comentários em razão da traição de sua ex-namorada Kristen Stewart, vai “se abrir” pela primeira vez diante das câmeras do The Daily Show (de Jon Stewart) para justamente promover Cosmópolis, talvez Cronenberg tivesse outra resposta, mas, em Cannes, apenas completou: “Vivemos uma época em que a juventude enfrenta um colapso de valores. É preciso mudar.”
Ouvir o diretor que é conhecido como niilista e mestre do terror físico, de obras perturbadoras como Crash e A Mosca, falar em ventos de mudança é, no mínimo, surpreendente. Mas é justamente nesta capacidade de mudar as velas de acordo com o vento que reside sua genialidade. Afinal, como reagir quando o mesmo afirma que Cosmópolis é, na verdade, um filme sobre a esperança?
Se pensarmos que seu filme mais recente antes de Cosmópolis foi Um Método Perigoso, em que foi acusado de suavizar sua simpatia pela estranheza (ao menos a visual, já que o filme trata da amizade entre Sigmund Freud e Carl Jung), o raciocínio pode se tornar mais interessante. “Estou com 70 anos e me interesso cada vez mais pelas neuroses e catástrofes humanas. E não só pelo bizarro, pelo científico”, afirmava um plácido Cronenberg sob o sol da Riviera Francesa, sempre relembrando que Cosmópolis é um filme sobre a esperança. “Há pessoas, celebridades ou não, como os Parkers do mercado financeiro, que ganham milhões, mas não criam nada orgânico. É só manipulação. É isso que precisa mudar. Aí está a esperança”, defende o diretor, para quem o real otimismo é o otimismo realista. “Se você quer falar de esperança, precisa ser forte. E não fantasioso. É preciso ser crítico para olhar duramente a realidade. É difícil detectar o problema, mas é possível.”
O problema não seríamos nós? “Exato! A crise financeira foi criada por humanos. Não é um Tsunami, um fenômeno natural. Nós criamos o dinheiro. Tem que haver uma solução. No caso do capitalismo, temos de admitir que nem tudo é bom. E mudar isso. Daí vem o otimismo no filme.”
Diante da declaração do diretor, Pattinson, que até então mantinha seu estilo tímido, profetizou: “Esta é uma história sobre o fim de um mundo que não faz sentido para ninguém. Mas também é um recomeço. Às vezes penso que o mundo merecia ser limpo e lavado. Pode parecer meio deprimente, mas é verdade.”
FONTE estadao.com POSTADO eternotwilight
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