terça-feira, 4 de setembro de 2012

►Cosmópolis pode ficar nos cânones como a adaptação perfeita de um livro ao cinema - O meu reino por um corte de cabelo


Cosmópolis pode ficar nos cânones como a adaptação perfeita de um livro ao cinema. Poderão alguns dizer que é batota, pois o livro de Don DeLillo é tão imagético que o trabalho de David Cronenberg torna-se simples e óbvio. Por um lado, é verdade que sim. Mas se tudo parece tão óbvio é porque Cronenberg o soube fazer bem.

 Há uma coincidência extraordinária de estilos e universos. Cosmópolis é Cronenberg em estado puro e ao seu melhor nível. O filme promete ganhar o estatuto de clássico do realizador canadiano, ao lado de A Mosca ou Crash. A colagem de mundos é tal que, por absurdo, quase que se poderia dizer que o romance de Don DeLillo é cronenberguiano. Depois do filme, de resto, será difícil lê-lo de outra forma. E por aí também se justifica a plena satisfação do escritor com o que viu no cinema.

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 Cosmópolis tem uma pulsão futurista que se desenha como uma fábula de leitura, com particular pertinência no mundo contemporâneo, sobressai a ideia de plastificação e 'supernumeração' do ser humano e da sociedade. Tal como o livro, o filme repete a epígrafe de Zbigniew Herbert: "A ratazana tornou-se a moeda de troca". E coloca-se mais perto desse tenebroso futuro, embora a ideia sirva, acima de tudo, de piada. A economia ratizada, em que ratos são os homens e não as notas, domina a trama, numa espécie de Wall Street futurista. Parte do drama assenta no incompreensível e surpreendente comportamento do Iene, que valoriza contra todas as previsões, o que incomoda o super-homem, super-yuppie, Eric Packer, não só porque está a perder uma fortuna, mas porque, afinal, descobre-se incapaz de antecipar o futuro. No futuro, o futuro continua a ser a maior das angústias.

 A estrutura do filme é simples. Grande parte da ação decorre dentro, ou em torno, de uma limusina que atravessa a cidade de Nova Iorque. O objetivo de Eric tão simples como um corte de cabelo. Um capricho, uma demonstração de poder, uma autodivinização. A viagem é feita contra todas as indicações. Um on the road em hora de ponta. O presidente está de visita à cidade, há multidões que se aglomeram em protesto, decorre o cortejo fúnebre de um rapper famoso e Eric recebe ameaças de morte. Mas a viagem prossegue como num carrossel. E na limusina vão entrando passageiros/funcionários, que lhe dão o que há de mais importante: a informação. Tudo é feito com um racionalismo exacerbado. A ideia de espaço é destorcida, o interior do carro, molda-se, estica-se e encolhe-se, como nos espelhos da Feira Popular, transpondo de forma brilhante o que, aparentemente, seria mais difícil de traduzir em imagens. Naquela limusina cabe o mundo inteiro.


Mas o golpe mais brilhante de Cronenberg é o final, em que condensa os "interlúdios' do livro, para uma discussão filosófica mais ampla, no confronto entre personagens e perspetivas. Um extenso diálogo em que se desconstrói o próprio filme. Ali está tudo em jogo: desde a luta de classes à natureza humana, ao futuro da economia mundial... E é tudo um aviso ao presente.
Com um grupo vasto de atores, que inclui papéis pequenos de Samantha Morton, Juliette Binoche e Mathieu Amalric, o filme afasta-se dos desvios de Estranhas Promessas e Um Método Perigoso, e reaproxima-se da essência cronenberguiana. Tem tudo para ser um sucesso mundial. A produção é de Paulo Branco, aquele que é um dos grandes produtores de cinema europeu, descobre uma escala transatlântica.

Cosmópolis, de David Cronenberg, com Robert Pattinson, Samantha Morton, Jay Barruchel, Juliette Binoche, Kevin Durand, 108 min

FONTE visao.sapo  // POSTADO eternotwilight

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