sábado, 8 de setembro de 2012

►Crítica: "Cosmópolis" - Jornal do Brasil

“Vamos falar sobre coisas e pessoas”, diz Packer ao seu possível assassino. Se essa fosse a premissa de Cosmópolis, novo filme do diretor canadense David Cronenberg, talvez seus mais de 100 minutos chegassem com mais facilidade ao espectador. Mas, não é; logo, a facilidade não vem. Contudo, é a essa missão que os personagens, saídos do romance homônimo de Don DeLillo, se lançam: falar sobre coisas e, esporadicamente, pessoas.

O romance de DeLillo, de 2003, se apoia em algumas previsões feitas por Karl Marx no Manifesto do Partido Comunista, de 1884, para torná-las palpáveis numa sociedade lavada pelos avanços tecnológicos e onde o capitalismo já chegou aos extremos mais absurdos. Se George Orwell cria um panorama assustador em seu 1984, a realidade projetada por DeLillo e recriada por Cronenberg é ainda mais aterrorizante. Se lá, a ameaça vem de um sistema de opressão e controle ditado por um Big Brother dono da verdade absoluta, aqui, ela tem outros contornos; uma vez lidando com interesses pessoais, o inimigo está ao lado e não no alto da pirâmide, e as relações humanas esbarram no instinto animalesco – para fazer outra citação orwelliana.

Na tela, um dia decisivo na vida de Eric Packer (Robert Pattinson), o menino de ouro das especulações monetárias que fez fortuna analisando projeções do mercado financeiro e administrando-as com especial aptidão. Agora, aos 28 anos, Packer esbanja uma estabilidade desconcertante numa Nova Iorque assolada pelo caos e mastigada pelo capitalismo.

O jovem empresário decide cortar o cabelo. Apesar de poder resolver a questão sem precisar de nada mais do que um telefonema, decide atravessar os dez quarteirões que separam seu apartamento da barbearia, em Manhattan, a bordo de sua luxuosa limusine, acompanhando do chefe de sua segurança, Torval (Kevin Durand), e do seu motorista, Imbrahim (Abdul Ayoola). Essa escolha terá implicações das mais sérias na vida de Packer.

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Devido a uma visita do presidente dos Estados Unidos e da morte de um famoso rapper, o trânsito da cidade está caótico. Não bastasse, ainda por conta da visita do presidente, um grupo de anarquistas toma as ruas em protestos agressivos – em cenas que remontam do recente “Ocupe Wall Street”. Por tudo isso, o protagonista gasta um dia inteiro para fazer o percurso pretendido.

Tendo a limusine como cenário principal, os dois terços iniciais do filme são marcados por longos diálogos que quase sempre adentram a esfera das divagações filosóficas. Nesse ambiente, por causa de uma manobra mal projetada, vemos ruir o império do jovem bilionário e a ideia dessa tal “cidade em harmonia” (pólis + kósmos) prometida pelo título.

Com poucos espaço e possibilidades, os recursos usados por Cronenberg, nesses longos dois terços, são repetitivos e até previsíveis. A atenção, então, vota-se para o texto que, em diversos momentos, escapa para a pseudofilosofia e para digressões que não dizem respeito aos personagens em questão, nem ao próprio filme. O que há de interessante é o clima que se vai instaurando no decorrer do trajeto (que pouco afeta o personagem central, mas, que perturbam, em certa medida, o espectador). A rápida participação de Mathieu Amalric, por exemplo, dá o tom da inconformidade que motiva os protestos contra, sobretudo, a classe abastada dominadora.

Fôlego

Entramos, então, no terço final do filme, este sim, bastante interessante, com interpretações mais densas e com imagens muito bonitas. O empresário, à beira da falência, chega ao seu destino, e, para o personagem nada parece interessar mais do que se lançar ao desconhecido e à falta das projeções que arrimaram toda sua trajetória. Da sua relação com o barbeiro, vivido de forma peremptória pelo experiente George Touliatos, faz-se enxergar o desejo pela humanidade do excêntrico e quase frio Eric Packer. Vem aí, a última sequência e a última cena do filme: um denso e provocador embate entre Packer e Benno Levi, um antigo funcionário de Eric que por não conseguir acompanhar os avanços que o jovem incorporou ao mercado financeiro, foi relegado à mais profunda miséria, fazendo do desejo de matar o ex-patrão o mote de sua desnecessária vida.

O ex-funcionário ganha vida através do experimentado Paul Giamatti, o que podemos chamar de uma belíssima “chave de ouro”. A cena final do longa é repleta de camadas e de imagens poderosas e pulsantes. Giamatti empresta à cena um vigor que, dentre outros méritos, arranca de Pattinson sua melhor performance.

O longa decepcionou a difícil plateia de Cannes e, certamente, não será diferente com as plateias das salas de cinemas comerciais, sobretudo se levarmos em consideração a fixidez da imagem de Pattinson ao vampiro que interpretou nos últimos anos; o público da Saga Crepúsculo, certamente, não encontrará, neste filme, nenhuma paridade, a não ser o mesmo ator.




Difícil, truncado, pseudo, filosófico… O novo filme de Cronenberg é tudo isso e, por tudo isso, é, sem dúvida, perturbador. Qualquer avaliação imediata pode se mostrar insuficiente. Este parece ser um daqueles filmes que são rechaçados pela plateia e pela crítica no momento do lançamento e que, anos depois, figuram nas prateleiras dos títulos cults indispensáveis.

Cotação: ** (Bom)


FONTE JB  // eternotwilight


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