O envolvimento de Kristen Stewart certamente trará uma certa quantidade de atenção para o lançamento do filme, Camp X-Ray, onde Petter Sattler estréia como diretor e que é provavelmente o melhor uso que ela poderia fazer da fama com a qual ela parecia tão desconfortável no despertar do massivo sucesso da Saga Crepúsculo.
Aquele desconforto, evidente em quase toda entrevista ou tapete vermelho que ela já frequentou , é um dos recursos dela como uma atriz, e no papel certo isto pode se tornar algo muito convincente. Ela estrela como Cole, uma jovem soldada posicionada como uma guarda na Baía de Guantanamo oito anos após os acontecimentos do 11 de setembro. O filme se desenrola de um jeito muito deliberado e experiencial. Ele na verdade começa com a fumaça do World Trade Center na TV. Nós vemos que estamos em um quarto de hotel. Há um homem com vários telefones rezando para Mecca. No meio de uma oração, ele é apanhado, um saco é colocado em sua cabeça, e então nós vemos uma série de imagens de várias pessoas sendo transferidas para Guantanamo. Nosso último vislumbre dele, o mostra encolhido em uma cela, o rosto machucado e com sangue, com soldados armados à sua volta.
Oito anos depois, uma vez que Cole inicia seu turno na gitmo(Base Naval da Baía de Guantanamo), nós alcançamos Ali (Peyman Moaadi), que ainda está sendo detido. O filme pinta uma tela do dia a dia da vida de ambos os soldados que estão trabalhando lá e os detentos(salienta-se desde o começo que eles nunca são referidos como “prisioneiros” por causa das Convenções de Genebra), e talvez a coisa mais forte que Sattler faz, é tentar manter um olhar neutro enquanto ele observa o jeito como esta situação afeta ambos os lados.
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Quando eu escrevi uma review sobre “Lone Survivor” recentemente, eu recebi algumas reações irritadas sobre pessoas chateadas porque eu não gostei do filme e que eu questionei o calor da missão retratada no próprio. Uma das mais estranhas cognitivas desconexas possível acontece quando alguém lhe pede para calar a boca e mantém sua opnião para si mesmo porque soldados estão lutando por sua liberdade. Não importando o fato de que sufocando uma opnião que você não aprova, vai totalmente contra a noção de liberdade. O que realmente parece estranho para mim sobre aquela reação, é a ideia de que alguém genuinamente acredita que minha liberdade pessoal sofre o impacto de um jeito ou de outro de coisas que aconteceram a um punhado de soldados navais americanos em uma montanha no afeganistão, ou a noção de que a mesma liberdade depende das ações dos soldados em uma prisão militar em Cuba. Se Sattler quer que seu filme seja político ou não… ele é, simplesmente em virtude das ideias que ele aborda. Enquanto eu compreendo o buraco em que nosso governo cavou para si mesmo com os detentos, eu não entendo a completa falta de movimento de avanço em relação ao que supostamente deveríamos fazer com essas pessoas. Em que ponto nós admitimos que nosso teatro sobre segurança têm sido mal sucedido, e como podemos sequer começar a abordar os erros que cometemos em relação a algumas dessas pessoas?
Lentamente, uma comunicação se desenvolve entre Cole e Ali, e ambos Stewart e Moaadi fazem um trabalho excelente no filme. Moaadi captura a fúria, o desamparo e a luta para manter um semblante de sanidade quando preso a uma situação insana sem fim à vista. Stewart consegue montar um retrato muito compreensivo de uma jovem mulher que não está completamente confortável com o que ela recebeu ordens para fazer, e a óbvia ambivalência que ela têm em relação a sua cidade natal da qual ela escapou e a vida para a qual se inscreveu, a fazem um guia perfeito para nós através de uma muito complicada paisagem moral. Sattler sabiamente nunca tenta retratar Ali como um completo inocente. As cenas iniciais como ele são rápidas o suficiente, cheias de pequenos detalhes que são difíceis de resolver, que fica difícil não pensar que ele estava envolvido em algo. Mas o quê? E quando não há julgamento e nenhum impulso para aprender algo sobre as pessoas que estão detidas, qual é o ponto? Para um país que passa tanto tempo falando sobre a importância da liberdade, nós parecemos perfeitamente satisfeitos em negar isso para pessoas através da vaga possível irregularidade e felizes em ter aquelas pessoas fora de vista onde nós não pensamos sobre isto.
No ônibus após o filme, um cara estava se queixando em voz alta que o filme apenas se preocupou em humanizar um dos detidos, mas eu acho que isto é na verdade um ato prudente da parte de Sattler. Quanto mais dos detentos ele introduz e quanto mais ele tenta retratar imagens completas de cada um deles, menos tempo ele passa a ter então. Em vez disso, através do foco em Cole e Ali, ele está fazendo seu melhor para deixá-los tornarem-se representantes de ambos os lados, em sua interação humana nós podemos ver a dinâmica completa da Baía de Guantanamo de forma ampla. Há um momento precoce onde Cole e Ali falam sobre livros na pequena biblioteca carrinho que ela foi encarregada de mostrar para os prisioneiros, e enquanto isto é tanto absurdamente engraçado e completamente mundano, quanto diz muito sobre ambos. Cole resisti ao ouvir qualquer coisa que Ali esteja dizendo através de um nível superficial, porque é mais fácil tratá-lo como um número sem rosto do que reconhecer que ele é um humano sendo trancado em confinamento por oito anos sem nenhum tipo de devido processo legal, e Ali está tão focado em seu próprio ultraje que ele não percebe o quão perigoso é para qualquer guarda lidar com ele em um nível pessoal.
Pouco a pouco, todavia, há mudanças na percepção e momentos de entendimento e praticamente no fim do filme, existe algo real que acontece entre eles. Não há nenhuma grande conclusão dramática impossível construída no filme por Sattler. Ele sabe que esta situação continuará acontecendo durante um futuro próximo, e que nenhum soldado e nenhum detento mudará aquilo. Mas o filme dele ousa sugerir que a única chance verdadeira que há para qualquer solução existe quando nós vemos um ao outro como algo maior do que rótulos e superfícies, uma ideia que evidentemente ainda assusta muitas pessoas em ambos os lados da equação.
O suporte técnico é forte para Sattler no filme, e uma observação especial deve ser feita sobre o trabalho de Richard Wright, o designer de produção do filme. Ele fez um ótimo trabalho criando a Baía de Guantanamo que parece real e funcional ao contrário de um set de filme. O filme é cuidadosamente gravado, com um olhar bom para detalhes de James Laxton, e a trilha sonora de Jess Stroup oferece um sombreamento emocional ótimo, sem forçar nada. O resto do elenco também é muito bom, com Lane Garrison em forma perfeita para o Cabo Ransdell, o resistente texano a quem Cole responde diretamente. Eu realmente gosto do modo como o personagem dele foi escrito para que seus palpites nunca tenham fácil entendimento, e John Carroll Lynch é praticamente tão bom quanto, ao interpretar Coronel Drummond, o comandante da base. O filme mostra uma imagem frustrante de como seria servir no exército moderno em uma posição burocrática, mas ao invés de moldar o exército como vilões ou heróis, isto simplesmente tenta capturar as contradições que comandam a maioria de seus comportamentos diários. Há um ritmo muito deliberado para o filme que pode ser intencional, mas que ainda faz parecer como se demorasse um pouco para a história achar seu foco, o que pode ser uma questão para muitos espectadores.
“Camp X-Ray” vai ser tornar difícil de ser distribuído comercialmente, mas o filme tem um coração humano delicado, e isto é atualmente recompensador. Acho que é uma forte indicação do que Stewart pode fazer com o material certo, e isto torna o caso de Moaadi como um dos mais interessantes atores para se trabalhar no momento. Sólido, pequeno, e sincero, “Camp X-Ray” oferece uma importante perspectiva para uma conversa difícil.
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