Os cinco filmes de grande sucesso de “Crepúsculo” não são carinhosamente lembrados no portfólio de um ator, mas desde que disse adeus à franquia que os tornou astros da noite para o dia, tanto Robert Pattinson quanto Kristen Stewart provaram seus valores como artistas ao aceitar papéis desafiadores não adaptados para os Twihards ao redor do mundo.
Isso ficou especialmente evidente no festival de Cannes deste ano, onde a dupla estava para suportar o que muitos disseram ser as melhores performances de suas respectivas carreiras. Para Stewart, foi como uma assistente de uma atriz em “Clouds of Sils Maria” de Olivier Assayas. Para Pattinson, foi como Rey, um americano socialmente desajustado lutando para se manter vivo no deserto australiano no filme que segue “Animal Kingdom”, de David Michod.
Com “The Rover” estreando em cinemas a partir de 13 de junho, Indiewire falou com Pattinson sobre o desafiador papel pós-apocalíptico.
David disse que o colocou sob pressão durante as três horas de audição para o papel. O que ele fez você fazer?
Bem, ele fez o teste na casa dele em Los Angeles. Eu não sei, foi meio tenso. Eu sempre tenho ataques de ansiedade incríveis quando eu faço audições. Eu tento evitá-los a todo custo. Mas eu adorei o roteiro. Eu tinha uma ideia de como fazê-lo assim que eu o li.
[A audição] foi longa. Normalmente você faz duas cenas em uma audição e é isso. Eu acho que é por isso que sempre fui mal ao longo dos anos… Eu também tinha um ótimo ator lendo comigo também, o que ajuda. Mas sim, não foi algo esgotante nem nada assim. Foi muito emocionante. Você pode dizer que David é ótimo mesmo em uma audição. Eu ficaria feliz mesmo se não tivesse conseguido. Foi uma grande experiência apenas fazer a audição.
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Você obviamente o ganhou na sua interpretação do personagem. O que você viu de especial em Rey?
Eu gosto muito da estrutura do personagem. Basicamente há apenas duas cenas com diálogos longos onde ele revela algo sobre si, quando ele não está sob total tensão. Mas eu realmente gosto de ter essas cenas com diálogos intensos que são preenchidas com subtextos. Até o ritmo e a cadência da fala dele revelam muito e é colocado num contexto de uma história de fundo, onde as pessoas realmente não falam em nenhuma outra cena. Isso permite a você fazer muito com o personagem. Era tudo tão solto, isso me agradou muito.
Rey fala de uma maneira muito peculiar, hesitante. Isso estava no script ou foi algo que você criou para o personagem?
Mais ou menos [risos]. Eu me lembro de ter lido nas primeiras vezes… e não dizia nem de que estado ele vinha. Apenas dizia que era no sul da América. Eu ficava dizendo para o David, “eu acho que tem alguns sotaques australianos no sul”. A fala australiana é bem lenta e pausada. E a fala do sul é cadenciada e ávida tradicionalmente. Acho que foi isso que gerou a fala hesitante. Mas essa é uma maneira das várias interpretações. Há muita repetição no script – para fazer a repetição interessante você tem que inventar algo estranho para fazer, ao invés de apenas se repetir.
Minha cena favorita no filme é também a mais inesperada, quando você começa a cantar a música de Keri Hilson “Pretty Girl Rock”. Você teve participação na escolha da música?
Eu acho que originalmente era uma música das Pussycat Dolls, “Don’t you wish your girlfriend was hot like me?” Eu me lembro de ter lido isso no script e pensar “Isso é inacreditável”. Então eles acharam a coisa da Keri Hilson e ficou perfeita para a cena. Eu basicamente canto toda a canção. Eu achei genial.
Você canta a música com muita convicção, o que eu achei estranhamente tocante de certa forma.
Eu gostei da ideia de um cara que está para tomar a maior decisão de sua vida, como um momento comum do filme. Ele está todo concentrado, mas não tem nada se passando. Eu fico pensando sobre esse momento nos “Os Simpsons” quando você vê o que acontece dentro da cabeça do Homer. Eu fico pensando que aquele momento era meio assim.
O filme é tão sombrio e implacável. Parece ter sido um inferno para filmar. Foi?
Ah, não! Foi literalmente uma das gravações mais divertidas que eu já fiz. Isso sempre parece acontecer quando você está fazendo algo que é incrivelmente deprimente. Ele foi um dos personagens mais divertidos que já fiz também. Você fica tão livre para fazer o que quiser que você nem sabe o que vai fazer quando começa a trabalhar. Foi animador. E também eu fiquei muito tempo sem filmar algo em que toda a equipe está junta. É um ambiente tão diferente quando você está trabalhando assim. Parecia um acampamento. Eu achei muito divertido.
Você trabalhou com David Cronenberg duas vezes agora, tem projetos futuros com Werner Herzog e Olivier Assayas. Você é mais direcionado pelos diretores do que pelos personagens que vai interpretar?
É um pouco dos dois. Também depende do tamanho do papel. A maioria dos papéis que estou fazendo nos últimos filmes são de coadjuvantes. No filme de Herzog eu trabalhei por apenas 10 dias ao algo assim. Quando você é protagonista, você tem que pensar se consegue fazer ou se consegue adicionar algo ao papel. Mas eu acho que depois de trabalhar com Cronenberg prefiro trabalhar com cineastas realmente ambiciosos e confiantes. Eu tenho uma lista de diretores com os quais quero trabalhar e eu faria qualquer coisa nos filmes deles. Mas não de qualquer maneira, eu faria qualquer filme, mas pensaria um pouco sobre isso. [risos]
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