segunda-feira, 22 de julho de 2013

Resenha: "Paixões Proibidas" (Adore)

Título original: "Adore".
Título em Portugal: "Paixões Proibidas".
Realizadora: Anne Fontaine.
Argumento: Christopher Hampton.
Elenco: Naomi Watts, Robin Wright, Xavier Samuel, James Frecheville, Ben Mendelsohn.

Baseado num conto do livro "The Grandmothers" de Doris Lessing, "Paixões Proibidas" apresenta-nos a uma história que se adequa na perfeição ao título nacional. Estas paixões proibidas são vividas entre Lil (Naomi Watts) e Roz (Robin Wright), duas mulheres de meia-idade, melhores amigas desde a infância, com o filho uma da outra. Parece estranho? É porque é mesmo. Provocante, polémico, algo controverso e belissimamente filmado, "Paixões Proibidas" surpreende-nos perante uma história composta por estranhos relacionamentos e laços amorosos, acompanhados por um cenário paradisíaco à beira-mar, onde o Sol abrasador não só aquece os corpos mas também as almas propensas às paixões. Lil é viúva e vive com o seu filho, Ian (Xavier Samuel). Roz é casada com Harold (Ben Mendelsohn), um indivíduo algo ausente, com quem tem um filho, Tom (James Frecheville). Quando Harold consegue um cargo superior numa universidade em Sidney, Roz e Tom ainda relutam, mas consideram acompanhá-lo. No entanto, o nascer da paixão entre Roz e Ian, acompanhado pela relação entre Lil e Tom, leva a que a vida destes personagens mudem, enquanto procuram lidar com esta nova situação e esconder da vida pública estes relacionamentos que podem chocar os mais conservadores.

CONTINUAR VENDO


É exatamente o choque que esta história pretende inicialmente causar, sobretudo se tivermos em conta que a sua premissa anda mais para o conteúdo de filmes pornográficos do que dramas e romances. Anne Fontaine responde relativamente bem ao desafio e atribui uma enorme sensibilidade (muito feminina diga-se) na abordagem a estas questões, estabelecendo primeiro a forte ligação emocional entre Lil e Roz, bem como entre Ian e Tom, antes de partir para os relacionamentos polêmicos, abrindo ainda questões relevantes sobre a possibilidade de entre as duas protagonistas existir algum desejo sexual reprimido (que pode ainda gerar uma interpretação das relações com os filhos serem manifestações de desejo sexual que uma nutre pela outra). Mais do que amigas, Lil e Roz parecem amantes, partilhando confidências, diálogos, brincadeiras, gestos, olhares, e até os filhos, algo que deixa Harold como uma figura à margem, que nunca consegue penetrar totalmente na vida da esposa. A credibilidade da relação entre estas duas mulheres de meia-idade ganha força com os desempenhos de Robin Wright e Naomi Watts, não por estas estarem no topo do seu talento, mas sim pela sincronia que apresentam, complementando-se na perfeição, enquanto o argumento explora as suas personalidades. Watts surge como uma mulher mais frágil, Wright mais pragmática, mas ambas sucumbem à paixão e ao amor físico pelo filho uma da outra.

Os filhos das protagonistas são interpretados por Xavier Samuel e James Frecheville. Samuel aparece mais intenso e apaixonado como Ian, com o seu personagem a desenvolver quase uma obsessão por Roz, enquanto o personagem de Frecheville surge sempre mais discreto, como um aspirante a encenador que inicia uma relação por despeito e acaba por sucumbir à paixão. Duas relações amorosas estranhas, salpicadas com algum erotismo e muito desejo sexual, adensado pelo cenário paradisíaco da praia que rodeia as casas habitadas por estas mulheres, algo explorado pelo cuidado trabalho de fotografia. Quer nos close-ups que exploram os rostos dos seus personagens e a passagem da idade, quer nos planos de conjunto que capturam o quarteto num pontão no meio do mar, a câmara é capaz de adensar o clima de intimidade entre os personagens e até entre estes e os cenários autralianos que os rodeiam, expor os seus sentimentos, aproveitar os rostos já com algumas rugas de Naomi Watts e Robin Wright contrastando-os com os corpos jovens dos seus amantes. Belas imagens em movimento, que contrastam com a convulsão destas paixões, com a possibilidade de algum dia tudo terminar, algo que ganha contornos complicados quando Ian e Tom estabelecem contactos com outras jovens da sua idade.

Existe quase sempre uma certa noção que estas relações estão condenadas a não darem resultado, sendo tudo demasiado estranho, com os dois jovens a desafiarem a passagem do tempo e o avançar da idade, enquanto as duas mulheres na casa dos quarenta/cinquenta anos cedem aos desejos carnais. Será que como filhos aceitaríamos ver a nossa mãe a ter uma relação com o nosso melhor amigo? Será possível uma relação tão aberta como entre este quarteto? Anne Fontainne tem em "Paixões Proibidas" um caso notável de um filme provocador, mas que não é capaz de aproveitar totalmente o seu material, espalhando-se num último terço onde estica a corda a um ponto onde a nossa capacidade de desligar o sentido de credibilidade é colocada demasiadas vezes em causa. Se consegue que acreditemos parcialmente neste mundo à parte, quase isolado da sociedade, próximo de um Éden ou de um sonho, onde duas mulheres e dois jovens entregam-se a duas paixões proibidas, já não se pode dizer o mesmo na interacção deste quarteto com os outros personagens que ocupam este círculo fechado e no seu último terço onde Anne Fontaine parece procurar ao máximo desafiar o nosso lado mais pragmático e esquecer o que de bom fez durante o filme.

Somos bombardeados com repetições narrativas, relações entre elementos do quarteto e personagens externos que funcionam como apêndices que desaparecem facilmente, plot holes e situações que fazem pouco sentido, numa obra que beneficia imenso de toda a sensibilidade feminina com que as temáticas polémicas são abordadas. Em momento algum sentimos que Anne Fontaine está a dar algo de gratuito, que os corpos são utilizados apenas para aproveitar o aspecto físico agradável dos seus protagonistas, bem pelo contrário, tudo é explorado para dar ao espectador uma história sobre paixões condenadas ao fracasso que resistem à racionalidade e sucumbem perante o desejo ardente. Fontaine sabe explorar os corpos dos seus personagens, sejam os rostos envelhecidos de Wright e Watts ou os seus corpos em plena forma, seja a aproveitar a constituição física delineada dos protagonistas masculinos, envolvendo-os em jogos de desejo e sedução. "Paixões Proibidas" transporta-nos para um cenário aparentemente paradisíaco para nos dar um romance provocador, nem sempre com grande sentido, mas com uma proposta corajosa, que facilmente prende a nossa atenção.

FONTE//

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Bem vindos ao Eterno Twilight, um site brasileiro totalmente dedicado à universo da Saga Twilight e a atriz Kristen Jaymes Stewart e Robert Thomas Pattinson.